Casar-se com a vida

A bailarina Raquel Cisne vai se casar em breve e anda impressionada com a histeria que, em geral, envolve os preparativos da cerimônia. Ela se pergunta - e quis dividir com o Absoluta - por quais razões, afinal, toda esta energia concentrada para uma única direção vai, pouco a pouco, murchando na relação, permitindo inclusive que o amor tão esperado vá se transformando em uma linha reta que começa a provocar amargura, vazio... Como permitimos que uma emoção tão mágica vá se perdendo desta maneira? Mas ela também propõe alternativas e esperança... Precisamos constantemente sentir esse estado de celebração e tem como.

Absoluta deseja muita felicidade ao casal.


Dentro de dois meses se realiza a celebração "oficial" do meu casamento, mas este assunto vem sendo, surpreendentemente, o foco quase que absoluto da minha concentração há mais de ano. Lendo uma infinidade de fóruns e buscando informações e idéias de todo o tipo, inclusive porque farei eu mesma grande parte dos "elementos" que vão formando este "espetáculo", me deparo com uma espécie de histeria coletiva que a tudo perdoa, que tolera gastos imorais, que anseia por protocolos anacrônicos, que sonha por uma igreja nunca visitada e jamais lembrada cotidianamente.

O grande interesse em relação a este acontecimento, até mesmo por mim, me intriga de tal maneira que venho refletindo muito, e, somente baseada na observação, construí uma teoria que gostaria de compartilhar.

Penso que, para muitas pessoas, este momento será o único em que se vêem como protagonistas de suas vidas, em que se destacam da imensa multidão que nos massifica, e, portanto, se pode agir de maneira excepcional, chegando a ponto de transformar-se em uma figura que em muito se distancia do que realmente se é - contanto que se deixe uma marca. E não se trata nem de comparar com a "Cinderela", pois ela casou e se tornou rainha, portanto, uma figura importante. O que se passa com a maioria dos casamentos é que o evento será, exagerando um pouco, o momento que praticamente abarca todos os sonhos, principalmente femininos; e quando a mulher se encontra, mais do que nunca, esplendorosa.

E a minha grande pergunta é: por que não usar todo este esforço e entusiasmo para, diariamente, mas diariamente mesmo, "transformar o tédio em melodia"? Será que é porque viver demanda, sim, muito trabalho, e nos entregamos à monotonia, muitas vezes considerando que não temos nada de especial?

Não estou criticando os sonhos alheios; muitos dos comentários que li me ajudaram muito em saber por onde andar neste campo tão rebuscado, além de que respeito aos sonhadores, acima de tudo.


O que constato é toda uma energia muito poderosa, a energia da expectativa, do "entheosiasmo" (esta que é capaz de trazer aos deuses para dentro de nós), totalmente concentrada para uma única direção e que, pouco a pouco, vai murchando, vai se esgotando, permitindo inclusive que o amor tão esperado vá se transformando em uma linha reta que começa a provocar amargura, vazio... Como permitimos que uma emoção tão mágica vá se perdendo desta maneira? Fico muito triste com isto.


Penso que, em primeiro lugar, deveríamos pensar em casar-nos com a Vida, este mistério tão generoso que nos convida diariamente a desenvolver todos os nossos múltiplos talentos, e então, sentir-nos constantemente em um estado de celebração, aproveitando todos os momentos, grandes como estes; pequenos, mas, principalmente, todos os ilimitados que podemos criar. Estarmos vivos é a maior de todas as celebrações, mas que não está no universo dos contos de fada, sendo algo concreto que requer trabalho, constância, determinação; esforço mesmo, de cada um. E isto pode desanimar, pode cansar, é mais cômodo ficar na frente da TV ou comprar tudo pronto, mais fácil dizer "eu não sei fazer isso", sem nem haver tentado...

Outra das minhas teorias é que tudo o que uma pessoa pode fazer a outra também pode, só depende do empenho que se coloque. Por que tão pouco empenho em viver o dia-a-dia plenamente, em estado de graça? Como disse Drummond, "somos do tamanho daquilo que vemos, e não do tamanho da nossa altura."

Daqui a pouco, volto para contar às amigas do Absoluta como foi a minha experiência e todos os toques pessoais que colocamos. Estou muito feliz com este momento, considero importante não só inovar e inovar, mas também conciliar os aspectos positivos do tradicional com o alternativo, pois tudo contribui para a evolução. Desejo que todas procurem estar casadas, com o amor de suas vidas, com seu animal de estimação, com seu trabalho, com seus interesses, consigo mesmas e, principalmente, com a crença de que, mesmo em este mundo convulsionado, é possível acreditar nas alianças.


Raquel Cisne
Bailarina porto-alegrense residente na Espanha, onde trabalha com Dança Oriental e suas fusões (flamenco, dança indiana, samba), e Pilates; por enquanto. Já foi professora de História e Religiões, estudou Artes Cênicas, é artesã, costureira, dona de casa, daqui a um distante tempo será mãe e ainda tem vários projetos para realizar que em nada se parecem aos anteriores descritos. Vai casar com um espanholzinho muito fofo, de estilo clássico, do mundo das ciências exatas, a quem ama multiplamente.
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Fotos: arquivo da autora

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Série Temática Edição Absoluta/Amores. Coordenação e Design: RICARDO MARTINS.