Amores Brutos e os novos homens de Gaia

Há uma outra luz, muito nova e quase invisível, ainda, mas real entre os machos da espécie.
Transcendendo à matrix que é a cultura que os educa a serem durões e sempre vencedores, esses novos homens de Gaia apontam para o recentíssimo masculino saudável do planeta.
Criaturas poderosas mas amorosas, yang mas sensíveis, solares mas não reizinhos...
É deles que fala Eduardo Sejanes Cezimbra, facilitador da RETRANS, dentista homeopata, terapeuta floral e, aliás, um belo exemplar da nova espécie.



Em "Amores Brutos" (Amores Perros), Iñarritu termina seu filme com esta dedicatória: "Para Luciano. Porque também somos o que perdemos." Outro título mais antigo, "Os brutos também amam", dois filmes por demais apropriados para iniciarmos esta conversa virtual.
Aliás, nada melhor que um círculo virtuoso para se sair de um círculo vicioso...
Os "Amores Brutos" dos machos da espécie já são por demais conhecidos: posse, ciúmes, abandono, traições, dominação, controle, poder, crimes passionais, violência contra mulheres e crianças.
A rinha de cachorros em que um dos personagens de "Amores Brutos" coloca seu animal na busca do enriquecimento rápido é uma metáfora do ter que vencer a qualquer custo, para ganhar a menina através de objetos de desejo consumista... As meninas que adoram meninos maus (bad boys) são reforçadoras deste círculo vicioso... O tênis de marca, o boné, o vídeogame com muitas armas e mortes sangrentas vai dessensibilizando e tornando banal tanto o consumismo de produtos de grife, quanto a violência, "fáceis" de se obter e descartar...
Também as três estórias que acontecem separadamente em "Amores Brutos", até que se entrecruzem, nos alertam para estas interações ocultas que se precipitam em trágicos acidentes de trânsito, denunciando vidas desperdiçadas.

Ironicamente, apesar de adentrarmos o novo milênio clamando por Paz, os meninos ainda são treinados para serem durões, cabelos cortados rentes, militares, para se diferenciarem das meninas, ganhando a qualquer preço e sendo incentivados a conquistarem todas elas ao mesmo tempo.
Como se meninos fossem apenas isto!

As imagens e objetos que mobilizam este comportamento competitivo e beligerante são sempre fálicas, percebem?
Armas de fogo, revólveres, carabinas, metralhadoras, espadas, carros potentes, e um futebol furioso, atrás de meter uma bola no gol para derrotar seu adversário.
Mas você pode estar se perguntando: sim, e daí?

Daí, que, muitas das vezes, a grande dificuldade dos meninos é obterem esta permissão familiar e social para demonstrarem sentimentos como amor, compaixão, solidariedade.
- Este menino é estranho!
Daí, muito se reclama dos índices de violência. Lembrando, as taxas de mortalidade entre homens jovens por acidentes de carro e armas de fogo são altíssimas, (40% das mortes são de jovens homens entre 20 e 29 anos), bem como as taxas de gravidez indesejada entre meninas adolescentes.
Afinal, o que estamos estimulando mesmo em nossas crianças e nossos jovens?!
Há muitas explicações racionais para estes acontecimentos, mas prefiro buscar no inconsciente coletivo estas projeções arquetípicas. São mais poéticas mesmo!
Os mitos que os regem ainda são os de Zeus, Teseu, Marte, Hércules, todos misóginos, machistas chauvinistas, prepotentes, facistas e traidores. Heróis impiedosos, com morte violenta, morrendo em nome da honra, sempre em nome de uma bandeira de guerra. E, para que se constelem, ou seja, para que se manifestem em surtos psicóticos, ignorem seus alertas, mormente seus aspectos positivos.
Mas haveria algum deus ou semi-deus que pudesse se elevar acima deste manjado thriller hollywodiano ou mesmo de "Amores Brutos"?
Pois acreditem, existe!
Os mistérios de Orfeu (ver também Oxumarê, Osíris) com sua lira em forma de coração, integrando seu lado feminino, capaz de encantar os animais, vejam só, o artista, antena da raça, tão maltratado nestes últimos séculos de racionalismo, os aedos, trovadores e cantadores... Estes cantores das tradições orais, oráculos do Amor, da União entre os opostos complementares - sem lutas, por favor, já basta!
Em síntese, ressensibilizar o homem é permitir-lhe o viço do Amor Universal, um coração aberto e receptivo ao "chi" cósmico, a energia da Vida.
Aprender o aikidô, sabendo que derrotar um inimigo é encarar a sua própria derrota, pois a luta rompe a sutil Unidade da Totalidade que é o Amor.
O Novo Homem de Gaia será o seu Orfeu, Oxumarê, Osíris, homem sensível, amoroso, compassivo, aquele que se viu na beleza da sua amada e para ela doou sua própria vida, capaz de descer aos infernos para a resgatar, sem se prender ao passado, seu erro fatal, o apego material que o faz olhar para trás em busca de sua amada Eurídice, pois:

T(E) = ARTE, TEMPO é ARTE!

Como já cantou nosso querido poetinha:

Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Morais


Dedicado a meu Doce Amor, que soube lapidar este Amor Bruto.

Eduardo Sejanes Cezimbra
50 anos, dentista homeopata, terapeuta floral, hipnólogo e facilitador da RETRANS - Rede Transcultural Holista
http://transnet.ning.com
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=8949955234760262404
ecezimbra@gmail.com
PORTO ALEGRE/RS

Amores Perros/Trailer: http://br.youtube.com/watch?v=XToRtfQbeHg
Ilustrações: Edição de arte a partir de fotos de ADOBE IMAGES

12 comentários:

  1. Sempre tive a felicidade de ser cercada de novos homens. E tantas críticas sempre escutaram eles, por não terem comigo a relação de posse, de propriedade. Alguns de seus amigos comentavam sobre a falta de controle que eles tinham sobre mim.
    Novos homens na verdade são desprovidos de posse, de violência por que sabem que “ter” alguém é por que esse alguém quer ser tido, que existe entrega e que se estou contigo é pelo que somos e não pelo que és tão somente. Novos homens, na verdade não tem posse por que são mais seguros do que é o amor e a convivência afetiva, assim são mais felizes. Como ouvi uma vez... “não preciso te ter para que sejas minha”.
    Amei o texto.
    Luz... Neca

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  2. Eu ainda não tive essa sorte. Quem sabe um dia... Por enquanto, vou tentando lapidar o meu amado.

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  3. Oi Cezimbra,
    gostei do texto e, confesso, que ainda não tive o prazer de me deparar com esse novo homem, mas quem sabe ele não anda por aí... espalhando suas sementes...

    Abraço
    Simone Castro

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  4. Olá amigas!
    Grato pelos comentários ao meu singelo texto!
    Há tanta coisa já dita sobre a questão de gênero, que às vezes me parece que tudo já foi dito, mas acho que a Neca pegou um viés muito marcante,que é esta pressão que os homens exercem contra o que chamei de novos homens de Gaia.É nesta pressão social que vai se gestando estas novas relações ,que acho que são tecidas mais intensamente entre os casais mais inteiros,confiantes em si mesmos, não acham?
    ABC(Abraço e Beijo do Cezimbra)

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  5. a boatos de um novo movimento em prol do resgate da força altruista e yang do bem ,alguns comentam que seria esse movimento chamado MASCULISMO ,outros de a DISOLUÇÃO DO GUERREIRO...enfim na nossa ingenuidade ocidental repudiamos as forças dissolutoras e impares do masculino,sem essa energia de cisâo nada se fecundaria ,nada se dissolveria...ha que se acreditar que até mesmo na maldade perversa do homem mora um bem nescessario a roda da vida

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  6. Ainda ontem respodi a duas amigas da RETRANS, que leram o meu texto. Uma delas comentou desta forma:"Com tanto foco na liberação feminina, esquecemos de
    nos perguntar por eles."

    A minha resposta:"Bom saber que gostaram do meu despretensioso texto.
    A minha idéia era mais a de provocar os homens,no que temos de mais
    incorporado(corte de cabelo,futebol,por exemplo,como máscara)mas me
    parece que as mulheres estão mais atentas mesmo,inclusive se questionando mais."
    Grato!
    ABC

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  7. Em meu último relacionamento busquei ser esse novo homem. Fui massacrado pela minha namorada. Não sei se era porque ela vivia a dualidade de ao mesmo tempo ser filha de um general do exército e ter cursado psicologia... E me cobrava ser esse novo homem e ao mesmo tempo um generalzinho, me deixando totalmente desnorteado, ou se ela era simplesmente uma mulher que leu em algum lugar sobre esse novo homem e procurou um nas prateleiras, mas não estava pronta para conviver com ele... Deve haver muitas mulheres assim, que quando a gente tenta ser esse novo homem elas se sentem inseguras, pensando que a falta de dominação, ciúme, posse, é falta de querer, desejar, amar. Acho que os mestres neste tema poderiam se dedicar um pouco mais a ensinar a mulher a lidar com o novo homem, pois penso que deve-se modular a reação ao “machismo”, ao “velho homem” que muitas incorporaram, baseadas em uma lição da história, e não em um novo contexto em que a evolução já se faz sensível e irreversível. No meu caso, esse “feminismo” que minha ex-namorada pregava só me mostrou que se eu não lutasse CONTRA ela, tentando marcar meu espaço, ela dominaria toda a relação... ela me pedia uma coisa, ser esse homem moderno, mas me forçava a adotar um posicionamento diferente, ser um “macho alfa” e “impor respeito” para não ser completamente dominado. E definitivamente, não é esse o meu ideal de vida a dois.

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  8. Sou mãe de dois homenzinhos e lendo seu texto percebo que estou no caminho certo como mãe, tentando passar a eles que ser Homem é maravilhoso mas ser macho é um fardo.
    Bjos... Claudia

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  9. Pois, galera, pra minha surpresa, na enquete da comunidade do Absoluta no orkut, 54% votaram que reconhecem nitidamente a chegada deste novo homem. Será que votaram somente as muito ligadas e totalmente abençoadas com a parceria de um exemplar da nova espécie? O detalhe é que mais 38% reconhecem que ele existe, embora raríssimo, e só 6% acham que tudo está igual.

    De tudo isso que falamos aqui nesse texto, cada vez mais percebo o qto TODOS estamos doentes: os homens que, mal e mal, estão construindo uma faixa mais saudável mas que nem sabemos o que é - sendo q a maioria de nós não está nem aí pra isso - e tb as mulheres pq a maioria delas, incluindo muitas das mais ligadas, ainda têm fundos ranços dessa cultura, como contou aí o Full em seu depoimento pessoal.
    É difícil realizar na prática meeeeeesmo para ambos os gêneros essa nova face. A notícia boa é que nunca houve isso na História (ou quem sabe só nas sociedades antigas matrifocais) e estamos vivendo tempos realmente pioneiros na idade moderna.

    Quem cansou disso e está buscando outra consciência e vivências, existe, sim, é uma saudável minoria bem minoritária, hehe, mas pioneira, inédita, tateando e construindo...


    luz e paz a todos, R.

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  10. Acho que estamos avançando muito, na verdade sinto que estamos naquela fase de "acumular" energia para o salto, sabe como é? Por isso parece confuso, parece que estamos parados, mas não estamos, essa preparação é necessária (e até dolorida eu diria, pq há muita faxina a ser feita), para que tenhamos força suficiente para dar o passo na medida certa... e acredito que há um número suficiente de pessoas passando por esse processo, umas conscientes e outras nem tanto, mas o suficiente para termos a capacidade de criarmos uma nova realidade. Bjinhos

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  11. Eduardo,
    Fiquei honrada por teres concluído que o meu texto complementa o teu.
    Já tinha postado este texto em outro blogs, sem nenhum retorno. E fiz isto agora sem nenhuma pretensão e o teu comentário me fez pensar diferente do meu texto tão simplório comparado ao teu tão... literato e conciente. Pretendo ver o filme a que te referes, pois ele, tendo te dado tantas referências, poderá ser muito útil para eu vislumbrar de maneira mais completa o meu pensamento a respeito do assunto.
    Estou, ainda, a procura do homem que me complemente desta maneira. Sempre encontro os que no “início” acham tudo divino, maravilhoso, mas que logo se mostram tão machões e machistas. Não tenho nada contra os machos (nem sou feminista), pois acredito que por alguma outra razão, alem da perpetualização da espécie, nascemos homens ou mulheres. Não acredito mais que as coisas aconteçam ainda, na minha geração. Falta, aos homens da minha geração muito de amorosidade, muito de afetividade, de ternura.
    Obrigada por ler os meus textos, quando os teus são tão
    bem elaborados e comportados.
    ABT. (abraços e beijos da There)

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  12. There,
    Para ser sincero,na verdade, o teu texto é mais completo que o meu,pois contempla o masculino também!
    Para quem ficou curios@ aqui vai a URL para ler o texto da There: http://transnet.ning.com/profiles/blogs/mulher-e-paz
    Grato
    ABC

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Série Temática Edição Absoluta/Amores. Coordenação e Design: RICARDO MARTINS.