De bem com a vida

Quando estamos bem, de alma em paz, a vida e a interação com todas as pessoas se tornam um exercício de troca permeado de alegria e vitalidade.
Um exemplo é Márcia Cristina Menezes, terapeuta, pesquisadora e arte-educadora: está chegando quase aos 50 anos cheia de dinamismo e boas recordações, antigas e atuais. Envolvida sempre em aulas de dança e apresentações, há uns tempos decidiu fechar um bar na Zona Norte da capital paulista e, sem patrocínio ou ajuda de amigos, transformou o espaço num galpão de arte, uma escola de dança, desenho, pintura e teatro. Grafitou as paredes e mandou ver.
Ela nos conta aqui como a arte e o convívio com adolescentes e famílias de baixa renda têm mexido com sua consciência sobre o amor.


Minha idade pode revelar muita coisa, porém sem intenção de disfarce, ela pouco se insinua nas ações profissionais do meu dia-a-dia. Comemorando 49 anos no mês de novembro, sou professora de dança de crianças, adolescentes e poucos adultos. Não é por acaso que não sou procurada pelos mais velhos que, quando me requisitam, logo perguntam se dou aulas de Dança de Salão. Com a resposta negada, surge a surpresa de muitos, dou aula de Hip Hop e posso afirmar: com muito orgulho!
Minha relação com a dança e todos os outros movimentos artísticos começou lá pelos meus três anos de idade. Especificamente na dança, minhas expressões se firmaram dos oito aos 14 ao som da Black Music, na época fortemente representada por Diana Ross, Michael Jackson (no grupo Jackson Five), Billy Paul, Marvin Gaye e muitos outros.
Esse tipo de música sempre mexeu muito comigo a ponto de todos os meus músculos acompanharem o ritmo e o compasso certo de uma batida vinda do jazz, do soul - o funk americano, extremamente dançante!
Aqui, no Brasil, admirando este suingue, cresci vendo e ouvindo Claudio Zoli, Sandra de Sá e, é claro, Tim Maia, em alguns programas de tevê. Sem ficar parada, rebolando pra valer!
Aos 16 anos, fazia três modalidades de dança: jazz, moderno e clássico. É claro que optei em ficar só com os dois primeiros durante anos, em boas academias de São Paulo.
Assim, até ficar grávida do primeiro dos meus três filhos, já dava aulas de jazz para crianças.
Até que meus filhos ingressassem na escola, fiquei afastada da dança. Porém, com total dedicação às minhas outras modalidades: dava aulas de artes na rede particular de ensino, pintava peças de porcelana em ateliê próprio e pintava camisetas personalizadas.
Por ter me formado em Artes, em São Paulo, tive facilidade em arranjar empregos na área, preferindo as escolas de Ensino Fundamental pelo bom relacionamento que tenho com crianças e adolescentes.
Desta forma, dediquei uns bons anos à arte-educação até ficar morando sozinha com meus filhos. Surgiu, então, um novo período de acordo com minhas necessidades de alma dançarina... Retomei, com intensidade, meus projetos de Dança e de uma forma bem diferente. Meu ambiente de trabalho passou a ser a periferia: resolvi dedicar-me a crianças e adolescentes "de rua", filhos de traficantes, abandonados pela esperança, órfãos de referências diversas.
Decidi fechar um bar (um boteco qualquer entre tantos da metrópole) na Zona Norte da capital, no bairro Trindade, onde o tráfico de drogas é enorme e judia dos adolescentes totalmente entregues a esse vício. Sem patrocínio, sem ajuda de amigos, transformei o botequim num galpão de arte: uma escola de dança, desenho, pintura e teatro. Grafitei as paredes (depois de ter feito uma higienização no local), adquiri material para o funcionamento, estipulei horário das aulas.

Foi a partir daí, início de 2002, que meus conhecimentos e práticas no Hip Hop aumentaram assustadoramente; dei início a uma pesquisa sobre a musicalidade significativa apresentada pelas crianças que nascem nas famílias da periferia. O gingado, a percepção e o "ouvido" musical diferem das demais. Trabalhando paralelamente em outro período numa escola classe A da mesma região, podia dedicar-me às aulas de ateliê e dança para filhos de pais jornalistas, artistas e professores. Portanto, a cada dia, notava, comparava, testemunhava os dois mundos... Atuava em mesmas atividades dentro deles, porém em condições, situações e estruturas divergentes. Os resultados eram fascinantes!

Eu conseguia aprimorar meus gestos, minha ginga no Hip Hop a partir da troca com os adolescentes de baixa renda e levava pra escola particular toda a expressão genuína desta linguagem da dança.
Ao contrário, nas artes plásticas, ia captando todo o processo criador em descobertas de técnicas e resoluções dos alunos carregados de referências culturais e transportava esta carga de conhecimento para a galera da Trindade.
Foi um período rico, recheado de experiências, desafios encontros e descobertas!
Neste meio tempo, meus filhos cresciam cada vez mais artistas; quando estávamos juntos, em casa, sempre rolava uma percussão, um coro de rap, uma pintura na parede do apartamento. Eu notava em cada um dos três a veia artística saltando de forma criativa e particular.
Nitidamente, eu detectava o fator "arte" no DNA do Rafael, do Marcelo e do Alexandre...
O projeto na periferia durou seis meses, pois decidi sair de São Paulo para morar no interior com meus filhos. De lá pra cá, nesta cidade verdejante, continuo envolvida no ensino de Dança e Arte, e tenho meu ateliê de pintura em porcelana.
Meus filhos, pequenos artistas de outrora, por opção de qualidade profissional e de educação, residem hoje no "caldeirão cultural', na metrópole dos ótimos museus.
Misturam, hoje em dia, arte e tecnologia e embarcam no design gráfico do mundo contemporâneo.
Continuo dançando muito, me apresentando em espetáculos da cidade, proporcionando alguns workshops na capital; porém, de forma alguma fico distante da pintura pois, sem sombra de dúvidas, é ela que tem me garantido.
Sei que o momento de brecar o Hip Hop, por circunstâncias reais, pode estar bem próximo... Por enquanto, não disfarço e "arrebento" na Black Music, mesmo sendo branquela e da terceira idade.

Márcia Cristina Menezes
Arte-educadora (artes plásticas, dança, teatro) de crianças e adolescentes, Professora de HIP-HOP e Dança Contemporânea do Espaço de Dança Alicita Toledo
Pesquisadora de Transição Planetária, Geração Índigo, Ufologia, TVP ; Terapeuta em Apometria e Mandaloterapia; Apresentadora do Programa NOVA ERA na infocoTV - http://www.infocotv.com.br/
http://marciaarts.blogspot.com/
marciarte7@hotmail.com
AVARÉ/SP

6 comentários:

  1. Parabns, Menina da terceira idade.Abraço. ramon arrivabene.

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  2. É isso!!! Você Márcia é pura expressão, !!sem nomes!!, prá ficar livre e justo isto me chamou a atenção, mais especificamente, uma pintura na parede do apartamento! Eles podiam pintar a parede??? Foi o q pintei no meu imaginário e aí Vibrei pq isso solta amarras antigas e se foi isso, tomara q solte todas as amarras , rótulos q notei perpassam tuas linhas na preocupação que de fora invade tua época de vida!! Não deixa não e nem se coloque prazos de vencimento. PARABÉNS MULHER DE TODAS AS IDADES!!!!! Beijocas prá você da Elena que anda pintando "aquelas" paredes "proibídas" e ouvindo tantos quantos diversos "OOOOHHHHH" comentários (zinhos). Mas, podexá que é NÓIS!!!!!

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  3. Vc. é uma garotinha e... muito linda.Parabéns pelo seu trabalho. Abração em vc. e no o Xavier
    Darcio

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  4. Parabéns Márciaaa....eu te amooo muito..sempre!

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  5. Agradeço a todos vocês que comentaram de forma tão carinhosa! Isto me dá mais incentivo!!!
    Bjs de energia e LUZ,
    Márcia

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  6. Sou suspeito pra falar qualquer coisa pois vivo com você, mas apesar disso, só tenho a dizer que seus cinquenta anos parecem vinte perto do que se vê de você e cem no que sua denotação experimental mostra pra gente.
    Parabéns é pouco pra dizer do que você tem pra nos colocar em vida e parabéns ao editor que teve a clarividência de ter você na sua páginas. Beijos absolutos. Xavi

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